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A questão racial pode ser considerada um dos temas mais discutidos de 2020 até o momento. Acontecimentos marcantes pelo mundo chamaram — e ainda chamam — atenção de todos, independentemente da classe social, gênero ou raça. 

Diante da relevância que se impõe, essa abordagem tão importante para a sociedade voltou a ser amplamente debatida e vem ganhando força, inclusive no mercado de trabalho por meio da inclusão racial nas empresas. Entenda que a diversidade racial é um assunto bem abrangente e não diz respeito somente à inclusão de pretos e pardos, mas de diversas raças.

Porém, como no Brasil essa é raça dominante, muito mais do que outras etnias como os amarelos, por exemplo, nosso foco será direcionado à inclusão racial das pessoas negras no ambiente corporativo. Continue para entender essa realidade e conhecer as ações que a sua empresa pode adotar internamente e diante da sociedade. Boa leitura!

Por que a inclusão racial é tão importante para o mercado?

Inclusão racial nas empresas

Não somente no mercado de trabalho, a discussão sobre a inclusão racial é pauta urgente em diversos âmbitos, pois ela deixa reflexos em todos os setores. Mas, infelizmente, alguns empregadores acabam por reproduzir comportamentos discriminatórios, trazendo à tona a necessidade de abordar o assunto no âmbito profissional.

Repensar a diversidade étnico racial é algo tão urgente e crucial que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período de 2015 a 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes, com o objetivo de promover o reconhecimento, a justiça e o desenvolvimento dessas pessoas.

Segundo a própria ONU, os afrodescendentes têm, reconhecidamente em todo o mundo, menos acesso à educação de qualidade, aos serviços de saúde, à moradia e segurança. A organização reconhece ainda que, apesar dos avanços no combate, o racismo e a discriminação racial continuam a se manifestar em desvantagem e desigualdade. 

Por isso, fica evidente que as empresas, enquanto principais agentes do mercado de trabalho, têm um papel chave na construção da diversidade racial no âmbito que lhe compete. Mas você verá, ao longo deste artigo, que o trabalho desenvolvido pelas companhias pode trazer resultados que vão muito além do mundo corporativo.

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Quais são as vantagens de investir na inclusão racial nas empresas?

Pode não ser de imediato, mas os benefícios de promover a diversidade racial serão percebidos mais cedo ou mais tarde por todos: profissionais negros, não negros, pelas próprias instituições e pelo mercado de trabalho globalmente. Veja alguns exemplos.

Equipes múltiplas e diversas

A começar pelas vantagens para as empresas, elas contam com a capacidade de montar equipes cada vez mais diversificadas, seja em cultura e estilo de vida, seja em capacitações distintas. As organizações compostas majoritariamente por brancos, têm oportunidade de fugir do “mais do mesmo” ao contratar pessoas que pertencem aos mesmos núcleos.

Assim, quando não abrem espaço para a diversidade, essas companhias acabam contratando profissionais que, muitas vezes, têm o mesmo padrão de formação e especialização e acabam refletindo sempre os mesmos comportamentos em ambiente corporativo, deixando de investir na pluralidade, tão saudável para o seu crescimento.

Aumento da produtividade e da lucratividade

Muitas companhias estão atentas à inserção da diversidade racial no mercado de trabalho e têm isso como premissa básica para contratar sócios, parceiros e fornecedores. Se uma empresa tem a inclusão racial como um dos seus pilares, ela poderá não contratar outra empresa que não conta com trabalhadores negros em seu quadro de funcionários, por exemplo.

Nesse sentido, organizações que compartilham da mesma visão, além de ajudarem a combater o racismo estrutural, saem à frente e têm mais chances de firmarem contratos, vencerem licitações, concorrências e, consequentemente, aumentarem sua produtividade interna e a lucratividade da companhia.

Valorização do profissional

Já para os profissionais, quando há a promoção da inclusão racial, são dadas oportunidades de crescimento e desenvolvimento para eles se destacarem na carreira e alcançarem, inclusive, cargos elevados como a diretoria e gerência, ou ainda atuarem como parceiros do negócio.

Quais iniciativas a empresa pode adotar para promover a inclusão racial?

A questão racial interfere diretamente no modo como instituições se relacionam com os clientes, com os colaboradores e como os colegas se relacionam entre si. Por isso, é papel da empresa investir na promoção da mudança de mindset do seu público interno, ou seja, propor ações para a transformação da mentalidade de todos sobre este assunto.

Entender essa realidade e se conscientizar para a necessidade de mudança é o primeiro passo rumo ao processo de introdução e desenvolvimento de ações voltadas à diversidade racial. Essa é uma pauta que já vem sendo discutida pelo mercado há um bom tempo, mas, possivelmente, nunca o cenário esteve tão propício como nos últimos anos.

Pensar em ações afirmativas — aquelas que são elaboradas especificamente para valorizar, promover e beneficiar determinados grupos discriminados — é outro passo importante. A seguir, selecionamos algumas que podem ser priorizadas pela sua empresa. 

Abrir espaço para capacitação interna de pessoas negras

Apesar de pretos e pardos serem a maior parte da força de trabalho no país, eles são a minoria na ocupação de cargos de liderança: menos de 30%, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Muito disso se deve ao fato de grande parte dessas pessoas pertencer às classes mais baixas e, por isso, ter baixo grau de escolaridade e pouca capacitação técnica para o mercado de trabalho. Um passo que as empresas que estão atentas a essa realidade pode dar é propiciar a formação desses profissionais internamente.

Por exemplo, durante um processo seletivo, se for constatado que quase não há candidatos negros com habilidades técnicas o suficiente, mas que contam com soft skills importantes para sua carreira — como determinação, disposição para aprender e espírito de liderança —, por que não contratá-los e treiná-los de acordo com as necessidades da companhia?

Essa é uma forma de valorizar e promover espaços para quem é competente e precisa apenas de oportunidades para se destacar como profissional e se desenvolver na empresa. Muitas vezes, verdadeiros líderes acabam não sendo identificados, pois precisavam de espaço para demonstrar suas habilidade.

Destinar verbas para propor capacitações factíveis

Falamos sobre a possibilidade de abrir espaço para contratar e capacitar, mas isso deve ser observado atentamente pelas empresas para que façam um planejamento realmente eficiente para colocar isso em prática, em sintonia com o RH e com o financeiro

Não adianta, por exemplo, pensar em propor determinada qualificação se não há verba suficiente para oferecer capacitações e treinamentos que sejam realmente úteis para o colaborador no dia a dia na empresa e para ele atuar o mercado de trabalho. 

Para isso, devem ser avaliados, como exemplo, quais serão os espaços dedicados para estudo, qual a infraestrutura adequada, a remuneração dos professores envolvidos, se os cursos serão feitos à distância e quais recursos são necessários para isso, entre outros aspectos importantes para que as qualificações possam ser efetivadas com êxito.

Revisar posicionamentos e políticas internas

A cultura de uma empresa é composta pela visão e pelos valores de seus donos e, principalmente, pelos costumes, crenças, pelo comportamento e o modo de se relacionar das pessoas que convivem lá. Por esses motivos, é comum lidar com a diversidade de ideias e de atitudes no ambiente corporativo, mas nem todas elas são saudáveis.

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Muitas vezes, colaboradores podem sofrer com provocações, insultos e até assédio na empresa e isso deve ser evitado ao máximo com a adoção de uma cultura organizacional que preza pelo respeito, aceitação da diversidade e valorização de todo tipo de crença, sexo e raça. 

Como medida que reflita na intolerância da empresa quando houver desrespeito aos colegas, a companhia pode estabelecer normas e políticas que funcionem como agentes propagadores da saúde do ambiente organizacional; sujeito a punições, como advertências, para quem descumprir esses princípios.

Essa é uma medida que deve partir da alta gerência da companhia e ser promovida entre todos os setores, desde o momento de entrada de cada colaborador até no monitoramento diário do bom clima organizacional.

Qual é o papel do RH nesse processo?

Estar sempre atualizado sobre questões sociais é um dos papéis dos profissionais de Recursos Humanos, pois elas mostram realidades e identificam tendências comportamentais tão importantes para quem lida com pessoas e com todas as variáveis que isso envolve.

O papel do RH em um desenvolvimento tão relevante como o da inclusão racial nas empresas pode ser desempenhado de diversas maneiras, em atividades contínuas, e que envolvam a todos dentro de uma organização. Entenda como!

Conscientizar os gestores

Todo processo de mudança organizacional deve começar do mais alto degrau de uma hierarquia para que os demais vejam o exemplo e inspirem-se a seguir o modelo, certo? Por isso, é muito importante que as lideranças sejam treinadas para repensar a cultura racial dentro da instituição.

Essa também é uma das premissas de setor de Recursos Humanos ao propor a difusão desse tipo de inclusão na empresa. Os gestores devem ser estimulados a pensar na importância da diversidade em suas equipes e a planejar estratégias que ajudem a elevar o patamar da companhia nesse sentido.

Propor debates e ações de conscientização voltadas aos colaboradores

Possivelmente, a sua empresa já desenvolveu algo relacionado ao combate à discriminação por raça, mas essas ações foram efetivamente positivas e fizeram repensar atitudes entre os colaboradores? Aqui, queremos sugerir a promoção de diálogos com profundidade, que toquem as pessoas de verdade, de alguma forma, e não com viés do senso comum. 

Além disso, o RH não deve encarar o assunto com uma pauta da moda e sim, um processo de mudança permanente. Todas as abordagens nesse sentido devem estar enraizadas na cultura da empresa e não serem tratadas porque identifica-se uma necessidade urgente pelos apelos da mídia.

Promover a ampliação de pessoas negras nos processos seletivos

Quando falamos anteriormente sobre a contratação de pessoas semelhantes e no mais do mesmo, nos referimos também à necessidade de recrutar de forma diferente do que é de costume. Ou seja, uma forma mais ampla; de buscar talentos onde, normalmente, não se procura, como nas universidades menos tradicionais e reconhecidas do mercado. 

Muitas empresas priorizam por profissionais vindos de faculdades renomadas e acabam se esquecendo de que há trabalhadores e estagiários tão competentes quanto em outros perfis de instituições educacionais. Por isso, se o RH perceber que não há candidatos negros, deve avaliar como e onde estão divulgando as vagas e pensar em formas de atrair esse público.

Sugerir a participação de mais colaboradores em campanhas publicitárias 

Diversas companhias elaboram campanhas publicitárias que são direcionadas para o grande público, por isso, todas as peças merecem um olhar mais atento antes da aprovação final. Quanto mais pessoas participarem da criação — pelo menos de um brainstorm —, maiores serão as chances de ouvir opiniões diferentes e elaborar um material mais ético e humano.

Assim, cabe ao RH aconselhar aos líderes que ouçam os integrantes de suas equipes; peçam a avaliação de todos se alguma frase ou peça está transmitindo mensagens racistas ou que possam gerar interpretações dúbias. Além de promover um trabalho democrático e integrado, evita-se a ocorrência de processos por veicular propaganda ofensiva e racista.

Utilizar profissionais, referências e cases de sucesso de pessoas negras

Quando uma empresa realiza treinamentos, independentemente do ramo de atuação, muitas vezes ela elabora algum material motivacional para os colaboradores. Esse é o momento ideal para valorizar referências negras, sejam brasileiras ou de outros países.

Pense em personalidades que fizeram história em seu meio de atuação ou que são engajados em algo importante para a sociedade e utilize-os como referências para ensinamento e inspiração. Às vezes, o start para a aceleração da inclusão racial pode começar com simples exemplos que antes passavam despercebidos pelas pessoas.

Ampliar os filtros nos processos de seleção

Lembra-se de que acima falamos sobre a importância de a empresa abrir espaço para a capacitação interna? Aqui, utilizaremos uma abordagem mais focada para o RH: propor a ampliação dos filtros nos processos de recrutamento e seleção.

E como isso seria possível? Vamos a um exemplo: muitas vezes, a contratação de pessoas com domínio em inglês em multinacionais é necessário e até fundamental, certo? Porém, este costuma ser um grande impeditivo ao acesso de pessoas negras em empresas deste perfil. 

No entanto, há cargos específicos que não demandam a comunicação com pessoas de outros países e o conhecimento do idioma não é necessário, e só está como requisito por ser um padrão adotado pela empresa. Já pensou como, em certos casos, poderia haver uma flexibilização e a facilitação da entrada dessas pessoas na empresa?

Vale ressaltar que não estamos sugerindo abrir mão de uma capacitação que seja essencial para a companhia e muito menos a contratação por si só. Mas sim, estamos chamando atenção para a necessidade de reavaliar padrões e políticas que podem ser reformuladas de acordo com a realidade do mercado e com os novos propósitos da empresa.

Por fim, entenda que, além da questão humana e social, investir na inclusão da diversidade étnico-racial também é uma estratégia de negócios, pois torna a empresa referência em adotar uma cultura voltada para a pluralidade. Isso ajuda na promoção da sua imagem, tanto para recrutar os melhores profissionais, quanto diante do mercado como um todo.

Além disso, saiba que o melhor caminho, além das ações afirmativas, é apostar na conscientização gradativa sobre a inclusão racial. Este é um assunto que pode exaltar os ânimos internamente, pois levanta questões muito particulares e bastante enraizadas na sociedade.

Por isso, esclareça aos gestores e colaboradores sobre a importância do diálogo, do respeito ao próximo e da necessidade do aprendizado constante, pois esse será um processo contínuo dentro da organização. É fundamental que todos entendam que deve haver uma parceria para que essa realidade seja alcançada e todos ganhem com essa transformação.

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