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As lutas por inclusão, respeito e fim do preconceito ganharam bastante visibilidade ao longo dos anos. Mas, mesmo com tanta evolução, muitos avanços ainda são necessários. É o caso, por exemplo, da busca pelo fim do capacitismo dentro das empresas.

Esse conceito trata de uma forma de preconceito que discrimina pessoas com deficiência, enxergando-as como incapazes de executar um bom trabalho como qualquer outra pessoa.

Dentro das empresas essa situação é bastante comum e interfere negativamente em aspectos como clima organizacional, trabalho em equipe, além da busca pela inclusão, tão importante para o mercado de trabalho.  

Quer saber mais como ocorre o capacitismo nas empresas e de que maneira ele pode ser combatido? Neste artigo, você verá:

O que é capacitismo?

pessoa com deficiência, cadeirante, interagindo com outra pessoa em ambiente corporativo demonstrando como não praticar capacitismo

O capacitismo é uma forma de preconceito e um assunto que vem sendo tratado cada vez mais não apenas dentro das empresas, mas em toda a sociedade. 

Consiste no ato de discriminar pessoas com deficiência – PCD – seja ela física, intelectual ou mental -, enxergando-as com olhar de superioridade.

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É quando, por suposição, pessoas sem deficiência julgam as PCDs incapazes ou como se tivessem menos valor dentro da sociedade. Ou seja, trata-se da ideia de que pessoas com deficiência são inferiores a pessoas que não possuem uma deficiência.

É como se uma deficiência tornasse aquele indivíduo anormal e incapaz de executar determinadas tarefas que outras pessoas tidas como “normais” executam.

Assim, o capacitismo é considerado uma forma de opressão que define os indivíduos pela sua capacidade, de maneira que quem está “fora do padrão” não conseguirá as mesmas oportunidades ou até mesmo não conseguirá nenhuma oportunidade de trabalho.

Como ocorre o capacitismo nas empresas?

Não é novidade que o preconceito e a exclusão são problemas que estão presentes e enraizados na sociedade. E eles se manifestam de diversas formas.

O mercado de trabalho é um ambiente muitas vezes competitivo, em que os profissionais buscam mostrar o seu melhor para conseguir melhores oportunidades, benefícios, salários atrativos e até mesmo premiações e destaque na posição que ocupam.

Esses contextos favorecem o surgimento do capacitismo dentro das empresas e ele se dá de diversas formas. E umas das mais comuns se dão por meio de expressões, falas e crenças que já se tornaram rotineiras no dia a dia das pessoas.

O capacitismo também ocorre de maneira que, em um primeiro momento, pareça uma atitude positiva e empática, como a superproteção, a piedade e elogios exagerados dirigidos a essas pessoas.

Mesmo que de forma inconsciente e até mesmo velada, essas manifestações reforçam estereótipos que colocam PCDs como incapazes. Veja alguns exemplos de falas muito comuns:

  • “Fulano é uma pessoa com deficiência e, mesmo assim, entrega um ótimo trabalho”
  • “Fiquei cego de raiva”
  • “Ele deu uma de João sem braço”
  • “Nossa equipe não tem braço para essa demanda”
  • “Desculpa de aleijado é muleta”
  • “Estava só aqui no meu mundo autista”
  • “Você não me ouviu ou está surdo?”
  • “Ele é tão baixinho, parece um anão”
  • “O chefe está de mal humor hoje, vou fingir demência”
  • “Nossa, mas você fica sozinha em casa, como consegue?”
  • “Mas você trabalha?”
  • “Por que não se aposenta logo por invalidez, devido à sua condição?”
  • “Parece um milagre que você consiga fazer isso!”
  • “Você é um anjo por estar passando por isso!”
  • “Você tem um filho especial porque você é especial”

Além das expressões, existem também atitudes que são comuns no dia a dia. E muitas vezes, a pessoa fala ou se comporta de determinada forma acreditando que está elogiando uma pessoa com deficiência. Mas isso nada mais é do que a prática do capacitismo. Veja:

  • A pessoa fica surpresa porque uma PCD terminou uma graduação ou pós, por exemplo, e faz comentários como “nossa, é incrível você ter conseguido isso nas suas condições!”.
  • Faz comentários sobre o quão extraordinário é ver uma mãe PCD cuidando dos filhos e “elogia” o fato como superação.
  • Parabeniza uma pessoa com deficiência por uma entrega no trabalho, atitude que não teria com um profissional que não possui deficiência.
  • Comenta com uma pessoa com deficiência “nossa, você parece ser normal”.
  • Se oferece o tempo todo para ajudar, mesmo a pessoa não tendo solicitado, e age como se essa pessoa precisasse de cuidados o tempo todo.
  • Parabeniza uma pessoa que não possui deficiência por ter convidado uma PCD para ir a um show ou evento ou, ainda, por ter se casado com ela, como se fosse uma boa ação.
  • Cria uma visão de que a PCD é um anjo inocente e que não tem sentimentos como raiva, tristeza, frustração.
  • Infantilizar a pessoa com deficiência.
  • Tratar a pessoa com deficiência como um herói, como se ela fosse muito corajosa e lutasse todos os dias para sobreviver. 

Além dessas expressões e comentários, há ainda outra maneira de se reforçar o capacitismo nas empresas, tornando desafiador o dia a dia de pessoas com deficiência: quando as empresas não cumprem as legislações que garantem direitos às PCD.

Como exemplo, existe a Lei nº 13.146/2015, também conhecida como Lei Brasileira de inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), que amplia o direito das pessoas com deficiência de inserção no mercado de trabalho e no ensino superior.

Além dela, existe ainda a Lei de Cotas, promulgada em 1991, que estabelece que empresas com 100 ou mais empregados preencham uma parte dos seus cargos contratando pessoas com deficiência

Porém, hoje, segundo levantamento, cerca de 372 mil profissionais com deficiência estão empregados na Administração Pública, em empresas públicas e sociedades de economia mista e nas empresas privadas, o que representa uma ocupação de apenas 53% das vagas reservadas. 

Esse é um dado que reforça como as próprias empresas acabam não cumprindo determinadas obrigações que são tão importantes para a luta contra o capacitismo no ambiente de trabalho.

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Por que combater o capacitismo nas empresas é importante?

Combater o capacitismo dentro das empresas é fundamental para manutenção de um bom clima organizacional. Qualquer forma de exclusão ou preconceito cria um ambiente de rejeição e separação que torna a rotina pesada e sem integração entre os funcionários.

Para a empresa, deve ser uma prioridade estar atenta a esses ocorridos e sempre buscar maneiras de informar e educar seus colaboradores para que sejam parceiros na busca pelo fim do capacitismo.

Sabe-se que muitos ensinamentos são trazidos da infância e até mesmo de um ambiente que não tem conhecimento sobre a importância da inclusão social e do respeito a pessoas com deficiência. Por isso, as empresas têm papel fundamental nesse contexto.

Dois aspectos tornam eficaz o combate ao capacitismo nas empresas, que são a disseminação da informação e a representatividade.

A informação porque possibilita a uma pessoa que não possui uma deficiência a oportunidade de entender um pouco essa realidade e refletir sobre suas atitudes, além de abraçar a luta contra o capacitismo.

E a representatividade, no caso, trata-se não apenas contratar PCDs, possibilitar que ocupem cargos em todas as áreas da empresa, para reforçar o quanto elas são importantes para o negócio.

Acabar com o capacitismo dentro das empresas é fundamental para que ela se transforme em um exemplo de inclusão, na prática, o que contribui para uma sociedade mais inclusiva e que respeita as individualidades.

Quais medidas o RH pode tomar para combater o capacitismo nas empresas?

O RH possui um papel fundamental junto às demais áreas na busca pelo fim do capacitismo dentro da empresa.

Sem dúvidas, ao se combater o preconceito dentro do ambiente de trabalho, uma das consequências é a melhoria do clima organizacional, algo que impacta diretamente em fatores e índices que o RH precisa reduzir, como o turnover e o absenteísmo, por exemplo.

Assim, a área de Recursos Humanos pode investir em diversas estratégias que vão envolver toda a empresa e englobam desde a geração de conhecimento até ações práticas para promoção da acessibilidade nos espaços de trabalho. Veja:

Contar com uma liderança treinada e engajada no tema

Não é novidade que as lideranças nas organizações realizam um papel fundamental de difundir a cultura organizacional, além de influenciar as equipes de diversas maneiras.

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Um bom líder exerce um papel de disseminar as ideias trazidas da diretoria para seus liderados, mostrando a importância daquilo para a empresa e para o trabalho de todos.

Para isso, as lideranças devem assumir o papel de levar até a sua equipe a importância de se lutar contra o capacitismo.

Seja por meio da disseminação das informações, estando abertas, inclusive, a ouvirem seus funcionários, tirarem dúvidas e até mesmo receberem possíveis denúncias de ocorrências de discriminação e preconceito.

Reforçar a importância do trabalho em equipe entre pessoas diversas

O trabalho em equipe é fundamental para o bom funcionamento da empresa. E quando o assunto é diversidade, a empresa deve buscar aproveitar as melhores qualidades de cada funcionário para formar equipes diversas, mas que se complementam.

Equipes compostas por pessoas com deficiência aumentam as chances de incentivar a inclusão, fazendo com que os próprios funcionários entendam a importância dessa diversidade.

Isso cria um ambiente saudável, onde o respeito, a confiança e o sentimento de pertencimento ao grupo são reforçados.

Por meio da geração de conhecimento

Gerar conhecimento sobre o tema é uma das maneiras mais eficazes de combater o capacitismo nas empresas.

A produção e disseminação de informações contribuem para mudar as representações da deficiência como algo negativo.

Quando as pessoas entendem a profundidade de um tema como esse, ouvem histórias e começam a praticar a empatia e o respeito, a tendência é que o preconceito vá perdendo lugar ali. 

E o conhecimento pode ser gerado de diversas práticas relativas a uma cultura de aprendizagem, por exemplo:

  • palestras
  • campanhas internas
  • e-mails
  • portais, como site, blog e intranet
  • mídias sociais da empresa
  • canais de comunicação internos, como podcasts, TVs corporativas

A ideia é falar abertamente sobre o assunto, inclusive dando espaço para que pessoas com deficiência falem sobre o tema, além de incentivar a troca e a produção de conteúdo, de diversas formas, com o propósito de esclarecer dúvidas, para combater preconceitos.

Outra dica nessa proposta é a promoção de espaços e contextos de socialização que possibilitem a interação entre pessoas com e sem deficiência.

Mas atenção: a empresa deve tornar o tema capacitismo um assunto do dia a dia, que precisa ser sempre combatido, assim, não é interessante trabalhar o tema apenas em datas comemorativas que fazem alusão a essa forma de preconceito, mas durante o ano todo.

Colocar em prática a acessibilidade no local de trabalho

Não adianta falar sobre capacitismo, se a empresa não faz o mínimo e o que manda a lei, em termos de acessibilidade, que é um direito garantido.

O movimento contra o capacitismo nas empresas deve prezar, sempre, pelo respeito e pela inclusão das pessoas com deficiência, e isso deve começar pela acessibilidade, na prática.

A acessibilidade deve considerar todos os tipos de deficiência e levar em conta a necessidade de banheiros, elevadores e rampas para além das escadas, dispositivos de sons para deficientes visuais, materiais em braile, entre outras adaptações necessárias. 

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Cumprir a legislação e criação de normas próprias

Além do cumprimento das legislações vigentes, como a Lei de Cotas, a empresa pode agir também por meio do estabelecimento de normas, leis e procedimentos próprios que expressem o apoio institucional para assegurar a inclusão de pessoas com deficiência.

Essas determinações podem ser colocadas de acordo com a realidade de cada empresa e sempre que se notar ser necessário alguma nova diretriz que irá contribuir para o fim do capacitismo nas empresas.

Ou seja, além de colocar em prática o que já é obrigatório, a empresa também pode criar um código de conduta que busca erradicar atitudes e falas que só reforçam o preconceito.

Compreender a diferença entre capacitismo e respeito às diferenças

Assim como a proposta é combater atitudes capacitistas, como a exclusão, a superproteção e o desrespeito em forma de elogios, as empresas devem ter clara a ideia de que as PCDs possuem condições específicas em relação àquelas que não possuem uma deficiência. 

Isso quer dizer que a ideia não é ignorar as particularidades dos indivíduos e usar um discurso de que “somos todos iguais”. 

O objetivo da luta contra o capacitismo é mostrar que, dentro das individualidades, todos têm direitos e merecem oportunidades.

Para isso, as empresas podem investir em um plano de cargos e salários para pessoas com deficiência. 

Não como forma de diferenciar essas pessoas, mas como uma maneira de garantir que elas tenham oportunidades que, historicamente, são negadas pela sociedade, devido às limitações trazidas pela deficiência.

Conclusão

Como foi possível observar ao longo deste conteúdo, o capacitismo, assim como outras formas de preconceito, contribui para privar os direitos e a dignidade das pessoas com deficiência, estabelecendo e perpetuando desigualdades e injustiças sociais.

Ele parte da ideia de que exista um padrão de “pessoa ideal” que possa ocupar os lugares na sociedade e aquelas pessoas que não se encaixam nesse padrão devem ser excluídas, por serem incapazes.

Essa concepção reforça a ideia de que uns são melhores do que os outros, o que não é verdade. O que ocorre é que cada indivíduo possui suas particularidades e demandas e todos têm o seu lugar, especialmente no mercado de trabalho.

Assim, as deficiências do indivíduo não devem ser vistas como aquilo que os definem, mas como uma parte de sua condição de vida.

Por parte das empresas, com um trabalho estratégico executado pelo RH, cabe o cumprimento da legislação que trata das PCDs e da inclusão, além de atuar de forma educativa e preventiva para evitar que o capacitismo ocorra no ambiente de trabalho.

Dessa forma, estará possibilitando e contribuindo para que todos possam atuar e apoiar a causa, independentemente de sua condição particular. 

Assim, o mercado também contribui para a busca da inclusão e do respeito à diversidade, especialmente dentro das empresas, onde as pessoas criam vínculos importantes para sua vida. 

Continue se aprofundando na importância da inclusão nas empresas! Leia agora nosso artigo sobre por que promover diversidade nas empresas

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